quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Doze Anos - Chico Buarque


Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
Um futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de pipoca

domingo, 5 de setembro de 2010


Hoje sonhei com minha vó...
O incrível é que não lembrava dela. Ela partiu quando eu tinha 4 anos de idade.
Hoje, eu a vi perfeitamente...
No sonho, eu estava acompanhada com uma mulher dentro da nossa casa em Macapazinho...e a minha vó estava do lado de fora e não me viu! Assustada, ela olhou fundo pra desconhecida, como se reprovasse a entrada dela sozinha na sua casa. Foi então que eu apareci e disse: " Vó! Sou eu, vó!"

Ela me reconheceu e abriu um longo sorriso. " Meu amor! Vem aqui com a vovó!". Eu fui. Era de noite. Quando cheguei perto, não lembro muito dos detalhes. Talvez ela tenha me abraçado. O que eu lembro é ela indo embora, no rumo das castanheiras da Dona Lúcia, o antigo quintal do Alfredo.

Ela veio me visitar.

Mesmo eu não lembrando de como ela era, do que eu sentia por ela e do que ela sentia por mim...sinto que estou protegida.

Obrigada por hoje, Vó!

Tomara...só Tomara...


Tomara que os olhos de inverno das circunstâncias mais doídas não sejam capazes de encobrir por muito tempo os nossos olhos de sol. Que toda vez que o nosso coração se resfriar à beça, e a respiração se fizer áspera demais, a gente possa descobrir maneiras para cuidar dele com o carinho todo que ele merece. Que lá no fundo mais fundo do mais fundo abismo nos reste sempre uma brecha qualquer, ínfima, tímida, para ver também um bocadinho de céu.

Tomara que os nossos enganos mais devastadores não nos roubem o entusiasmo para semear de novo. Que a lembrança dos pés feridos quando, valentes, descalçamos os sentimentos, não nos tire a coragem de sentir confiança. Que sempre que doer muito, os cansaços da gente encontrem um lugar de paz para descansar na varanda mais calma da nossa mente. Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor.

Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a ideia da alegria.

Tomara que apesar dos apesares todos, dos pesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz.

Tomara.

Ana Jácomo